Índice:
- "In Google we trust".
- Informação e comunicação em democracia.
- Desporto profissional, dependência, e alienação.
- Internet, informação, e comunicação.
- Meios de informação pública: confiar e desconfiar.
- Privacidade e meios de informação pública.
- Moralidade e religiões.
- Pluralismo nos meios de informação pública.
- O planeta Terra: um navio.
- Internet e credibilidade da informação.
- Sobre o Washington Post.
- Novas tendências na Internet.
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Textos:
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"In Google we trust".
Um amigo meu de longa data, de forte personalidade e convicções profundas, enviou-me ontem cópia de uma mensagem electrónica em que pedia desculpa por ter retransmitido para a sua rede de conhecimentos uma informação que chegara ao seu conhecimento pela mesma via contendo um erro grosseiro sobre a identidade de uma pessoa que teria procedido a movimentação de capitais de forma irregular.
E em tal pedido de desculpas informava que tinha retransmitido a informação na convicção de que era correcta, mas que em boa hora um amigo de longa data, cuja palavra lhe merece toda a confiança, lhe remeteu uma mensagem referindo que a informação era falsa, pelo que de imediato alertou todos os destinatários iniciais solicitando-lhes que tomassem conhecimento do erro e que igualmente reencaminhassem a correcção para quem tivesse retransmitido a informação inicial.
E, naturalmente, apresentava as desculpas públicas à pessoa vítima do erro involuntariamente cometido.
A dignidade do procedimento, bem reveladora do elevado carácter do meu Amigo, é um exemplo que deveria ser observado por todos quantos constatassem erros grosseiros atentatórios do bom nome de outrem, e que agora proliferam nas redes de informação electrónica, seja em correio, em páginas pessoais, ou nas "redes sociais".
Porém o aumento exponencial da informação pública circulante, quer através dos meios mais clássicos - nomeadamente a radio, a televisão, o cinema, e a que se difunde sobre suporte em papel - quer a que se apresenta através de diversas formas electrónicas, em especial na Internet, torna porém cada vez mais difícil destrinçarmos a verdade, pois até na área audiovisual surgem formas mais subtis e "requintadas" em termos de distorção e manipulação.
E é aqui que entra em cena o fenómeno "googliano", pois este motor de pesquisa adquiriu um tal relevo e preponderância que leva a que quando surgem diferenças de opinião ou de interpretação sobre factos o argumento "vi no Google" acaba por ser frequentemente invocado, apesar de caso se pesquisasse um pouco mais se tivesse podido encontrar o procurado contraditório - procedimento este que muito menos frequentemente é observado.
E é então que nas "redes sociais" o que caracterizei com a adaptação da simbólica frase "In God we trust" à expressão "In Google we trust" assume todo o seu poder manipulatório, pois caso uma informação errónea seja atingida pelo nirvânico "tornou-se viral", poderá expandir-se até atingir o estatuto de "In Internet we trust", após ter subido o patamar "In Facebook we trust", de modo a aniquilar os esforços tendentes a corrigir erros cometidos na difusão de informação.
Só muito lentamente e ao longo do tempo é que os cidadãos poderão atingir a prática - infelizmente necessária - de não acreditarem logo no que se lhes transmite, e de o tentarem verificar por consulta de fontes alternativas (e não esqueço os que vivem sob regimes ditatoriais em que o controle da informação é férreo) - antes de apressadamente o retransmitirem.
13.Março.2016,
_________________________________________________________Informação e comunicação em democracia.
Volto a estes temas, citando alguns trechos de intervenções que fiz anteriormente, por considerar que os sistemas democráticos devem aperfeiçoar-se face às novas tecnologias de informação que têm surgido desde os finais do século XIX, nomeadamente as que têm características de larga difusão, e que vieram complementar a imprensa em suporte papel ocupando o principal lugar durante cerca de quatro séculos.
O telefone assumiu-se como o primeiro sistema de comunicação directa entre os cidadãos que a ele tinham acesso, e num segundo plano, mais restrito, o telégrafo e as comunicações radiofónicas, sucedendo-se a radiodifusão sonora que até ao advento da televisão se assumiu como o principal meio de difusão unidireccional, embora permitindo liberdade de escolha de canais de audição nos Estados não-autoritários.
A Internet veio transformar radicalmente a transmissão de informação, dando origem a uma era em que se tornou possível uma grande massificação da circulação de informação "horizontal", isto é, em que os cidadãos podem comunicar directamente entre si com poucas condicionantes restritivas - salvo em regimes políticos autoritários em que o poder político intervem na selecção da informação cuja circulação é permitida.
A Televisão e a Internet vieram modificar, nos países mais desenvolvidos, os modos de relacionamento social, assistindo-se assim ao atenuar da comunicação presencial, nomeadamente a de vizinhança, desempenhando a TV um papel de grande relevo na difusão de informação e de modelos de comportamento cultural e social, televisão que apesar do crescente papel dos telefones móveis e da Internet ainda assume uma preponderância nítida na transmissão de informação e de padrões de vida - certo que com a possibilidade de escolhas nos Estados com regimes não totalitários.
No entanto a Internet tem vindo a aumentar a sua capacidade de elemento transmissor de informação e de modelos culturais, assistindo-se a uma forte disputa com a Televisão em que esta poderá vir a perder muita da influência que até agora deteve, assistindo-se entretanto a diversas tentativas de uma e da outra no sentido de "absorverem" a rival - os sistemas internéticos procurando assegurar a capacidade de retransmissão de canais televisivos, e os operadores de televisão procurando possibilitar o acesso à Internet através dos televisores.
Contudo, o aumento exponencial da Internet através dos telemóveis - tanto de formato reduzido, como de média dimensão - faz antever a possibilidade da diminuição da influência da TV clássica, reduzida a uma presença em sala, em que informação e entretenimento ainda se manterão, mas constantemente aferidas por múltiplas escolhas dos seus "competidores" mais pequenos.
O dado comum a estas questões é, porém, o crescente afastamento inter-pessoal, quer ao nível da redução do saudável passeio pelo bairro após o jantar, quer nas visitas a vizinhos, quer na frequência de colectividade local, ou de grupo de interesses comuns - ou ainda e por último, mas afinal o mais importante, na menor comunicação directa em casa, em particular entre gerações.
Mais informadas, é certo, as pessoas. Mas mais longe umas das outras.
Os reflexos desta situação não se vêem de imediato, mas traduzem-se na diminuição da qualidade da vida política, pois há mais informação mas há menor participação directa, melhor conhecimento dos assuntos mas menor no que respeita aos representantes eleitos - em que nada pode substituir o contacto directo.
E é por isto que em muitos países as formações políticas tradicionais se esboroam e surgem alternativas, ou as frustrações dão origem a manifestações violentas de quem não pressente soluções para problemas essenciais.
Já me tenho referido a estas questões, sugerindo caminhos - e um deles passa pelo reforço do Poder Local - pelo que voltarei em breve a este assunto.
27.Dezembro.2015.
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Desporto profissional, dependência, e alienação.
Hesitei antes de abordar o tema das relações entre o espectáculo desportivo profissional e a dependência e alienação das realidades provocadas por este tipo de manifestações, mas considerei que não deveria deixar de voltar a tentar apelar ao bom senso e a mostrar o exagero em que se tem caído no quase endeusamento dos principais actores de tais exibições.
Como já o fiz em textos anteriores, publicados nestas net-páginas, volto a afirmar que tem vindo a aumentar a alienação relativa a este tipo de espectáculos, que se aproximam muito mais de desempenhos circences em que as compras de artistas mais qualificados, e dos seus treinadores" (quase diria "tratadores"...) são determinantes para o sucesso financeiro das empresas que os sustentam, eufemisticamente designadas por "clubes".
Tais empresas jogam habilmente com o lado emocional das pessoas que por motivos que têm muito de irracional resolvem aderir à condição de simpatizantes, mesmo de "militantes" - por vezes ferozes - das associações que se dedicam principalmente ao fomento de demonstrações "desportivas".
O seguidismo relativamente a uma empresa "desportiva" faz esquecer que o factor nele determinante é o sucesso de uma actividade empresarial que recorre a meios financeiros cuja origem e ligações são frequentemente associadas a negócios menos claros, como se constatou recentemente a nível mundial com o futebol profissional, em que os quantitativos financeiros circulantes são avultadíssimos.
E, claro, também a nível nacional, com o recente episódio de um treinador de futebol contratado num quadro em que os números envolvidos são exorbitantes, e em que os pormenores das negociações são rocambolescos.
As consequências da alienação colectiva à volta destas situações fazem esquecer que jogadores e treinadores, "comprados" por empresários que depois os "vendem" aos donos de "empresas desportivas" - sejam eles indivíduos como ocorre cada vez mais com árabes, russos, e outros novos-ricos, ou empresas cotadas em bolsa - defrontarão numa época os que já foram seus colegas ou colaboradores em situações anteriores.
E não devemos deixar de recordar as marchas "legionárias" de adeptos, entoando canções obscenas e envolvendo-se em lutas cujos resultados são muitas vezes bem funestos, ou procedendo a selváticas destruições de bens materiais, bem como as provocações e infindáveis discussões televisivas sobre o pormenor de uma situação de golo, alimentadas por juristas e profissionais liberais que quase se insultam mutuamente, contribuindo para a criação de ambientes de ódio em vez de pugnarem por uma sã convivência.
Esperemos entretanto que os cidadãos vão progressivamente compreendendo que estão - também no âmbito dos espectáculos "desportivo-profissionais" - a ser alvo de manipulações sobre o seu pensamento que visam fazê-los esquecer outras questões mais candentes.
7.Junho.2015.
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Internet, informação, e comunicação.
A importante companhia Cisco, relevante a nível mundial em matéria de redes de comunicação electrónica, acaba de publicar um estudo sobre tendências no desenvolvimento da Internet.
São números impressionantes, que apontam para que dentro de 4 ou 5 anos a circulação de videos ocupe 80% do tráfego, e que os dispositivos sem fios sejam duas vezes mais que os clássicos, aumentando até 11 vezes, em 2019, relativamente a 2014.
Independentemente dos números relativos a aspectos comerciais e financeiros, bem como a comparações entre grandes áreas geográficas, o que mais me reteve a atenção, sob o ponto de sociológico, foi precisamente o que citei ao início: o crescimento do video, e o dos dispositivos móveis.
Tudo leva a crer que caminhamos assim para uma sociedade em que os indivíduos se tornem progressivamente mais autónomos no processo de obtenção e transmissão de informação, e em que a componente audio-visual prevaleça sobre a escrita.
Nesta, novos programas como o Netflix e o Periscope permitem a transmissão directa de video a partir de um dispositivo móvel, levando inevitavelmente à prevalência deste tipo de comunicações sobre as que se baseiam na transmissão de informação escrita, podendo talvez vir a reduzir igualmente e em breve prazo o fluxo das comunicações telefónicas clássicas.
Cabe assim reflectir, uma vez mais, sobre os conceitos de informação e de comunicação - este último associado à perspectiva de diálogo directo, face a face, sem a intermediação de um dispositivo tecnológico - e o respectivo papel na evolução socio-política.
Sendo certo que caminhamos para uma sociedade mais informada, não é evidente que venha a ser melhor informada, pois é de admitir que o predomínio da circulação audio-visual retire espaço à transmissão de informação de mais qualidade e em que a componente escrita - que permite uma melhor reflexão sobre o que se lê e o que se passa a texto - perca parte da sua importância relativamente à que se processa em termos audio-visuais.
Não será assim difícil pressentir que o predomínio dos meios de informação audio-visual se poderá vir a reflectir cada vez mais sobre o modo de escolha dos representantes políticos, assumindo crescente importância o papel daqueles meios na transmissão da respectiva propaganda eleitoral, em que a prevalência do conceito de representação e de delegação de poderes tende a deixar para trás as formas de participação directa na vida política.
A consciência da encenação que decorre do exercício do poder político obtido em tais circunstâncias obriga a que os cidadãos devam procurar obter formas de escolha dos seus representantes em que o diálogo face a face, e a observação directa do comportamento dos que elegem, sejam determinantes para a formulação das suas opiniões.
Ou seja, dando prioridade à comunicação directa, inter-pessoal, nos processos eleitorais, em detrimento dos métodos que tenham subjacentes tentativas de manipulação do pensamento.
31.Maio.2015.
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Meios de informação pública: confiar e desconfiar.
Há alguns dias foi profusamente divulgado um video relativo a uma conferência em que Yanis Varoufakis aparecia fazendo um gesto, considerado habitualmente como obsceno, associando-o à Alemanha.
Y.Varoufakis, actual Ministro das Finanças da Grécia, rapidamente desmentiu ter feito tal gesto, considerando que o video tinha sido manipulado, e que a conferência filmada não era recente pois tinha sido proferida em 2013 - se bem que tivesse feito referências desprimorosas à política alemã.
No dia seguinte Jan Böhmermann, responsável pelo programa satírico no qual tinha passado o video em causa, veio afirmar que a cena respeitante ao discutível gesto tinha sido inserida através de manipulação de imagens de modo a coincidir com as afirmações críticas relativas à Alemanha.
Seguiram-se novos desmentidos em sentido contrário, desta vez por parte dos produtores do programa, e profunda controvérsia em especial na Alemanha relativamente ao que passou a ser denominado como "Varoufake" - talvez como antecâmara para "Varougate"...
Este episódio demonstra bem como cada vez é mais importante a ponderação dos cidadãos sobre a qualidade e a fiabilidade da informação que lhes é transmitida, em particular por meios audio-visuais, uma vez que as técnicas de manipulação de imagens e sons atingem actualmente níveis de sofisticação absolutamente impressionantes.
Já em 2010, nestas páginas, tinha tido a oportunidade de dar a conhecer (e pode-se ver a partir daqui) como se tinha fabricado a filmagem de um acidente de autocarro - que não tinha acontecido - em Lyon, e que é uma boa lição sobre o cuidado que devemos ter na apreciação da informação que nos chega, pois tal como então referi nestas páginas se há alguns anos os detentores dos meios de transmissão em massa de informação estavam relativamente bem identificados, agora contam-se por milhões.
Acresce o facto de o correio electrónico, os blogues, e as redes sociais electrónicas permitirem a proliferação de informação ou de documentos de reduzida credibilidade - para não referir os que envolvem mistificação - bem como a publicação de comentários anónimos com a inevitável probabilidade do insulto ou da falta de fundamentação.
Debate-se entretanto o jornalismo com o problema da manutenção gratuita das versões "on-line" dos orgãos de informação escrita face à por enquanto ainda reduzida vertente da publicidade paga, problema que poderá chegar às próprias estações de televisão e radio dado o aumento da banda larga na Internet, suscitando então quer uma maior presença da publicidade comercial quer o pagamento do acesso aos conteúdos; ou, o que parece ser mais provável, um misto das duas opções.
O facto é que o cidadão desejoso de obter a informação com maior grau de credibilidade terá que a procurar onde existem profissionais de mérito, que obviamente têm que ser pagos tanto através da aquisição do produto, como dos rendimentos decorrentes da publicidade.
Por outro lado, permanecerá a dúvida sobre se os possuidores dos meios de informação pública interferem - mesmo que subliminarmente - no trabalho dos jornalistas, levando a que a informação transmitida não seja isenta e que a independência seja algo posta em causa.
O facto de não ter sido renovado recentemente o contrato de um prestigiado jornalista de um dos periódicos de maior prestígio em Portugal permite continuar a acalentar dúvidas sobre este tipo de questões, pois cada vez mais somos obrigados a aferir da consistência da informação em função da qualidade do seu difusor.
E a assumirmos, mesmo assim, uma postura de verificação permanente, nomeadamente através da comparação de fontes, sobre o que nos vai sendo transmitido.
22.Março.2015.
Privacidade e meios de informação pública.
"Quando, na sequência de uma pesquisa efectuada a partir do nome de uma pessoa, a lista de resultados exibe uma ligação para uma página "web" que contém informações sobre a pessoa em questão, esta pode dirigir-se directamente ao operador ou, quando este não dê seguimento ao seu pedido, às autoridades competentes para obter, em certas condições, a supressão dessa ligação da lista de resultados".
Trata-se de uma transcrição do recente resumo de um Acórdão do Tribunal de Justiça Europeu relativamente a uma reclamação de um cidadão espanhol alegando que, quando se inseria o seu nome no motor de busca do "Google", a lista de resultados exibia ligações para páginas de um jornal diário de 1998 que anunciavam um arresto destinado a cobrar as suas dívidas à Segurança Social, em processo que já estava resolvido há vários anos.
Tal Acórdão foi fundamentado na existência de uma Directiva (95/46/CE) do Parlamento Europeu e do Conselho que tem por objecto proteger as liberdades e os direitos fundamentais das pessoas singulares (nomeadamente, do direito à vida privada) quando do tratamento de dados pessoais e, em simultâneo, eliminar os obstáculos à livre circulação desses dados.
O Acórdão, a que a Google rapidamente de seguimento, e que se julga estar a aplicar já a dezenas de milhares de pessoas que solicitaram a supressão de dados pessoais resultantes de pesquisas no respectivo motor de pesquisa de informação, parece estar desfocado da realidade e da própria interpretação em meu entender correcta dos termos da citada Directiva.
"Dados" são informações. São atributos, no âmbito da Directiva, relativos a pessoas. E que podem ter sido dados a conhecer em meios de informação pública como por exemplo livros ou jornais em suporte papel. E que nos Estados onde há liberdade de imprensa - leia-se informação pública - é regulada através da obrigatoriedade de publicação de resposta, com recurso aos tribunais quando tal não ocorra, bem como para julgamento sobre o respeito da lei em geral e em particular dos factos invocados.
Isto, sem prejuízo da possibilidade de publicação de desmentidos em meios de informação pública de difusão pelo menos igual à do ou dos que deram a conhecer factos erróneos, ou que posteriormente foram sendo modificados.
Como é evidente, a aplicação da Directiva em causa, e do Acórdão subsequente, a dados publicados em suporte de papel pressuporia no caso vertente e noutros similares a ordem de obliteração dos textos determinados pelos Tribunais que entendessem dever respeitar (na União Europeia e fora dela...) tal jurisprudência - situação inimaginável em especial sob o ponto de vista da sua exequibilidade.
Teria sido aceitável, isso sim e caso exequível de modo simples e automático, que o Acórdão estipulasse que os motores de pesquisa na Internet fossem obrigados a introduzir desmentidos, na sequência de decisões judiciais, em todas as ligações destas decorrentes.
E neste processo caberiam evidentemente as decisões respeitantes a apagamentos de registos criminais, que em diversos Estados são legalmente previstos para em certos casos se darem novas oportunidades a quem incorreu em determinados crimes e expiou as respectivas penas.
6.Julho.2014.
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Moralidade e religiões.
Há 60 anos faleceu Alan Turing, um génio na área das matemáticas e considerado percursor das ciências de computação, que igualmente ficou célebre pela sua acção no decorrer da Guerra mundial de 1939/45 enquanto responsável pelo desenvolvimento de técnicas de decifração de mensagens das Forças Armadas alemãs que permitiram sucessos militares altamente importantes.
Não se sabe se a sua morte foi suicídio mas admite-se que em tal caso a razão teria sido a profunda depressão em que entrou após ter sido objecto de castração química como pena alternativa (à de prisão) por que teria optado por ter sido condenado por homossexualidade, então considerada crime no Reino Unido.
E só recentemente, há cerca de 6 meses, é que à sua memória foi concedido um "perdão" oficial.
Por outro lado: há poucos dias o auto-designado Exército da Síria e do Levante emitiu um ultimato aos cristãos residentes na cidade de Mossul impondo a escolha - para continuarem a residir na cidade - entre o pagamento de um imposto, a conversão ao islamismo, ou a morte "pela espada".
Dois exemplos que mostram o quão atrasada está a Humanidade no que respeita ao estabelecimento de códigos religiosos e de moralidade.
Quantas gerações ocorrerão até que o aumento e a melhoria da informação e da educação levem ao estabelecimento generalizado de regimes democráticos onde tais exemplos deixem de poder ocorrer ?
20.Julho.2014.
_________________________________________________________________________Pluralismo nos meios de informação pública.
Foram recentemente terminados os contratos de trabalho de mais de 60 jornalistas até agora vinculados a um dos mais importantes grupos económicos na área dos meios de informação pública, que tendo começado pelas transmissões de futebol pela TV está agora presente também nos sectores da imprensa, rádio, televisão e internet, bem como na publicidade e nas telecomunicações, entre outras, e a que pertencem por exemplo o Diário de Notícias, a TSF, o Açoriano Oriental (o mais antigo jornal português), e os também prestigiados Jornal de Notícias e Jornal do Fundão.
Sabe-se como é cada vez mais difícil nesta época para a imprensa tradicional, no seu suporte de papel, competir tanto em velocidade de circulação de informação como em rentabilidade com os outros meios de informação pública, pelo que os jornalistas tendem a ser os primeiros sacrificados quando as empresas comerciais de que dependem começam a ter prejuízos financeiros nas áreas em que se desenvolve a sua actividade.
Esta perspectiva faz-nos suscitar fundadas dúvidas sobre o grau de independência que os jornalistas podem sustentar quando está em risco a sua sobrevivência económica, quer no que respeita à escolha dos temas a publicar ou a investigar, quer no que respeita ao modo de os apresentar ou de sobre eles expenderem opiniões, sendo conhecidos casos de cessação unilateral de contrato de trabalho na sequência de publicação de factos ou opiniões que causaram desagrado nos detentores do capital das respectivas empresas.
E deste modo outras dúvidas se colocam aos cidadãos que em países onde há formalmente liberdade de imprensa, e que legitimamente se podem interrogar se têm à sua disposição os meios onde podem confrontar diferentes versões de factos ocorridos, ou inclusivamente se determinados acontecimentos foram deliberadamente ocultados, ou ainda se não houve restrições à publicação de opiniões diferenciadas - naturalmente dentro das ópticas de justa razoabilidade face a espaços disponíveis e a outros factores em que a sensatez quanto à oportunidade de publicação se deve impor.
Porém, e curiosamente, um dos factores que tem sido invocado para a necessidade de redução de despesas - a crescente difusão de informação pela Internet - pode conter paradoxalmente as sementes do que pode ser a sobrevivência de muitos jornalistas.
Já existem experiências de cooperativas de jornalistas que, na sequência de cessações unilaterais de contratos de trabalho por parte de entidades empregadoras, concretizaram projectos sustentáveis de informação através da Internet, através de financiamento colectivo obtido pelo mesmo modo ("crowd-funding").
Cada vez sentimos mais necessidade de haver à nossa disposição meios de escolha dos modos de obtenção de informação que reputemos como credível, o que melhor asseguraremos se nos apoiarmos num conjunto de jornalistas em quem para tal confiamos.
Caros jornalistas no desemprego: podem contar comigo se avançarem na concretização de projectos da natureza cooperativa que me permitam confiar em vós no que respeita à pluralidade e liberdade de informação.
15.Junho.2014.
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O planeta Terra: um navio.
Retido - tal como muitos milhares de pessoas - pelas consequências da erupção vulcânica ocorrida na Islândia, não posso deixar de pensar na fragilidade do nosso planeta, e na alienação geral face aos riscos que a Natureza pode apresentar à vida humana.
É certo que a por agora imprevisibilidade de graves ocorrências como sismos e erupções vulcânicas, nestas nomeadamente as que podem incluir a emissão de cinzas - uma das ameaças mais sérrias para a vida humana - , deixa ficar a generalidade dos homens quase indiferente ao que nos poderá acontecer.
Superpopulação e desequilíbrios em pirâmides etárias, distribuição desigual de recursos, economia e sistema financeiro sem adequados sistemas de regulação a nível mundial, esgotamento de fontes de energia, efeito de estufa, deflorestação, ameaças nucleares, tratamento de resíduos, aparição de novos vírus, eis algumas das áreas que podem concorrer para minar a capacidade de perpetuação da vida humana, e em que pode haver acções susceptíveis de corrigir os respectivos efeitos negativos.
Importa também fazer recordar que o globo terrestre é como um navio em que a nossa espécie procura a sobrevivência, sendo prioritário tentar encontrar soluções para que tal possa vir a ocorrer, quer quanto às ameaças no planeta, quer através de expedições espaciais em moldes análogos aos que Stephen Hawking tem vindo a propor, e que foram logo referidos nestas páginas assim que há alguns anos foram iniciadas.
Pena seria que uma espécie como a humana, capaz de progressos exponenciais em matéria de conhecimento, sossobrasse por continuar a não procurar antever ameaças de natureza global nem a tentar encontrar soluções preventivas, bem como sistemas que permitissem a sua preservação e a do conhecimento e sabedoria penosamente adquiridos.
17.Abril.2010
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Grupos económicos e liberdade dos jornalistas.
A liberdade de imprensa assenta, como é geralmente reconhecido, num pluralismo de fontes de informação que permita aos cidadãos formularem as suas opiniões comparando o que é dado a público por pessoas com diferentes pontos de vista, quer sobre factos quer através de opiniões.
Porém um desejável maior pluralismo só é possível desde que os jornalistas - termo usado mesmo quando se trate de órgãos de informação que não se caracterizam por serem jornais no sentido clássico de tal expressão - sintam que não têm condicionamentos das respectivas entidades patronais quanto à respectiva liberdade de publicação de factos e de opiniões, ou que estão adequadamente protegidos por leis e associações profissionais que zelem pelos seus direitos, e, ainda, que existe uma sã concorrência que lhes permita mudar de órgão de informação sem dificuldades.
São porém conhecidos diversos casos em que têm ocorrido despedimentos de jornalistas por terem formulado opiniões ou apresentações de factos que mereceram a discordância das respectivas entidades patronais, que por seu turno estão ligadas a grupos empresariais e financeiros cujos interesses são muitas vezes coincidentes.
Face a tais situações, aos cidadãos que procuram estar melhor informados depara-se a dificuldade de ponderarem se as descrições factuais têm um aceitável grau de credibilidade, e se as opiniões formuladas não estão nem condicionadas por interesses menos claros nem submetidas a um crivo tácito de exclusão de outras.
Há alguns anos tais dificuldades não eram fáceis de superar, mas com o advento da Internet começa a ser possível caminhar-se no sentido do aumento do número e qualidade das escolhas à disposição dos cidadãos, que podem agora assinar uma ou mais publicações em formato electrónico em que reconheçam haver um grau considerável de independência jornalística bem como uma abertura a opiniões que não sendo de jornalistas cubram um importante leque de pontos de vista - nestas incluindo-se os comentários de leitores.
Por outro lado, podem aceder às net-páginas publicadas gratuitamente por outros órgãos de informação, e face à qualidade da informação apresentada decidirem sobre eventuais acessos pagos, substituindo ou complementando anteriores.
Finalmente, há o mundo cada vez mais crescente das net-páginas pessoais, dos registos regulares ("blogs"), e dos diálogos e debates em redes sociais electrónicas - tudo elementos que podem contribuír para a melhoria da qualidade da informação obtida, permitindo a cada cidadão com acesso à Internet "construir" a sua rede própria de recolha de informação, e que por definição pode e deve estar submetida a alterações e melhoramentos constantes.
É certo que como Sergei Brin e Larry Page, fundadores da Google, têm mencionado, há poderosas forças que tentam condicionar o acesso à Internet, desde Estados repressivos a grupos empresariais, mas as características desta super-rede internacional apontam mais para a superação progressiva de tais obstáculos, se bem que acompanhada de uma crescente abertura à intervenção do Direito Internacional Privado em matéria de regulação de conflitos.
Creio assim que a tendência prevalecente não poderá deixar de ser a de um favorecimento generalizado da liberdade de informação e consequente melhoria da nossa capacidade de percepção sobre o mundo em que vivemos.
26.Agosto.2012 .
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Internet e credibilidade da informação.
Circulou recentemente na Internet um vídeo em ficheiro que mostrava um acidente provocado por um transeunte que se teria colocado à frente de um autocarro de passageiros numa avenida em Lyon, para pouco tempo depois ter surgido no Youtube um outro video que, repetindo a visualisação do ocorrido, mostrava depois como este tinha sido forjado com o recurso a modernos métodos de composição audiovisual.
Este episódio deve fazer-nos reflectir sobre a múltiplas questões que o advento da Internet trouxe no que respeita à avaliação da credibilidade do que nos é transmitido, pois enquanto há uma dezena de anos os detentores dos meios de transmissão em massa de informação estavam relativamente bem identificados, agora contam-se por milhões.
Longe vão os tempos em que a transmissão do conhecimento se fazia essencialmente pela oralidade, acrescida lenta e progressivamente de outros meios que porém estavam limitados pela natureza das respectivas capacidades, desde a transmissão gravada em pedra, papiro e papel até ao aparecimento da imprensa, que porém manteve durante muito tempo uma reduzida capacidade de tiragem.
Com a radio, e depois com a televisão, manteve-se a caracterização de uma quase unidireccionalidade, que perdurou ao longo do séc.XX para agora se ter transformado de modo quase exponencial graças ao desenvolvimento da Internet e em que o correio electrónico, os blogues, e agora as redes sociais permitem a proliferação de informação ou de documentos de reduzida credibilidade - para não referir os que envolvem mistificação - bem como a publicação de comentários anónimos com a inevitável probabilidade do insulto ou da falta de fundamentação.
Debate-se entretanto o jornalismo com o problema da manutenção gratuita das versões on-line dos orgãos de informação escrita face à por enquanto ainda reduzida vertente da publicidade paga, problema que poderá chegar às próprias estações de televisão e radio dado o aumento da banda larga na Internet, suscitando então quer uma maior presença da publicidade comercial quer o pagamento do acesso aos conteúdos; ou, o que parece ser mais provável, um misto das duas opções.
O facto é que o cidadão desejoso de obter a informação com maior grau de credibilidade terá que a procurar onde existem profissionais de mérito, que obviamente têm que ser pagos quer através da aquisição do produto, quer dos rendimentos decorrentes da publicidade.
A mistificação do vídeo de Lyon é um exemplo a reter no que respeita à avaliação da credibilidade, pelo que importa não se esquecer a conveniência de a procurarmos aferir no nos é transmitido.
Doutro modo, arriscamo-nos a nos transformarmos em autómatos do "forward" ...
11.Abril.2010
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Sobre o Washington Post .
A compra do lendário Washington Post pelo criador e principal accionista da Amazon (J.Bezos) vem criar largas expectativas sobre o futuro dos jornais em suporte papel, pois parece ser o primeiro caso de aquisições deste tipo, dado que até agora se assistia quer à duplicação dos jornais clássicos passando a existir também em formato digital, quer ao seu simples desaparecimento.
A sobrevivência da Amazon enquanto fornecedora de livros "clássicos", se bem que ajudada pela sua expansão ao sistema de vendas de outros produtos com entregas por vias tradicionais, e a sua entrada no mercado das aquisições de livros e outros documentos em formato digital, sobrevivendo bem à concorrência da Google e de outras companhias, faz antever que J.Bezos pense numa nova fórmula que possibilite uma união "papel-digital" susceptível de permitir a sobrevivência dos clássicos jornais num mundo em que a informação corre cada vez mais célere e diversificada.
Parece assim provável que o Washington Post evolua para um modelo dual, em que a informação muito recente apareça na versão digital acompanhada de ligações para documentos e comentários que permitam uma melhor compreensão dos acontecimentos, sempre privilegiando contribuições audio-visuais de alta credibilidade obtidas aquando do respectivo evento; e em que na versão em papel, distribuída de modo que por certo surpreenderá pela imaginação e versatilidade, surgirão análises e debates de maior profundidade.
Em qualquer dos casos, o valor das iniciativas de J.Bezos estará dependente do modo como conseguirá manter o jornalismo tradicional enquanto mediador credível da informação, tanto na versão em suporte papel como na digital.
Num mundo em que se assiste à atomização da informação circulante, que nos avassala em termos quase demolidores, importa cada vez mais dispormos de recursos para nos ajudar a ponderar sobre a credibilidade do que chega ao nosso alcance, bem como a comparar pontos de vista.
Oxalá J.Bezos consiga contribuir para se encontrarem soluções para este tipo de problemas, mantendo a possibilidade de folhearmos um jornal como ocorre com os livros, em que tal perspectiva está por natureza aliada à capacidade de calmamente reflectirmos sobre o que lemos.
18.08.2013.
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Novas tendências na Internet
A recente decisão do "New York Times" de publicar na sua versão na Internet os artigos de opinião (cuja leitura completa estava reservada a quem adquirisse a edição em papel, ou a quem pagasse a obtenção da versão digital dos artigos) é um sinal evidente de como a Internet está a mudar.
A publicidade inserida nas páginas digitais está cada vez mais a substituir-se a outras formas de pagamento, não sendo por acaso que a empresa "Google" oferece gratuitamente a possibilidade da inserção nos seus Mapas dos dados relativos a empresas, incluindo obviamente a sua localização.
Antevêem-se assim mudanças profundas também no que respeita à protecção de direitos de autor, não sendo de surpreender que mesmo na área do audiovisual se tenha que vir a recorrer a formas de publicidade elegantes e inteligentes que obviem aos prejuízos causados por cópias ilegais.
A publicidade assumir-se-à cada vez mais como uma arte, para além da ciência que já é; e ao adquirirmos um produto a que associamos uma imagem atraente e bem elaborada de realce das suas qualidades estaremos de certa forma a pagar o que julgávamos ter sido grátis...
As formas interactivas de estar na Internet - e a aceitação da publicidade agradável é uma delas - mostram bem como agora é que estamos a entrar na verdadeira aldeia global de Mac Luhan, antes quase unidireccional, e no futuro, omnidireccional.
29.Set.2007
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